Exercícios para Desenhar com Firmeza

Exercícios de Pincel para Melhorar Sua Arte Digital

Pinceladas precisas são essenciais para desenhar bem, no tradicional ou no digital. Neste tutorial, Ricardo Guimarães ensina alguns exercícios úteis para isso!

 

 

Dizem que existem tantos estilos quanto existem pintores. Além disso, as técnicas de um mesmo pintor podem evoluir ou mudar ao longo da sua carreira, mudando também seu estilo.

 

No fim das contas, tudo se resume à maneira como um pintor aplica a tinta nas superfícies de sua escolha, isto é, nas técnicas de pinceladas que ele usa.

 

Neste tutorial, vamos explorar algumas maneiras de aplicar nossas marcas numa tela de pintura digital, explorando não apenas os excelentes pincéis padrões do Clip Studio Paint, mas também como personalizar algumas das configurações a fim de criar pinceladas únicas.

 

 

Toda pincelada conta

O que quer que você pretenda pintar, faça cada pincelada valer. Pense bem antes de aplicar cada marca sobre a tela de pintura. Toda decisão que você tomar será uma decisão de proporção, forma (design) e posição de suas pinceladas.

 

Mesmo que você tenha que usar 50 traços para pintar algo no início, pode ter certeza de que, se continuar praticando, após algum tempo vai conseguir pintar o mesmo objeto com apenas cinco traços. Para os exercícios apresentados aqui, eu sugiro experimentar quadrados de pinceladas simples (fig. 2, 5, 9 e 13) antes de tentar pintar algo mais complexo.

 

O objetivo destes exercícios é fazer com que a direção e comportamento das pinceladas se tornem instintivos para você.

 

Exemplo 1: a miniatura gráfica

Para o primeiro exemplo, vamos criar uma miniatura gráfica. Miniaturas gráficas são essenciais para entender composição e como formas afetam a leitura final da cena. Em geral este tipo de trabalho é feito com um pincel rígido e totalmente em preto e branco.

 

Para este esboço, eu escolhi o “Oil Paint Flat Brush” na categoria Pintura grossa (atalho “b”) com as configurações padrões. Esse pincel gera um traço firme e sólido, com variação de largura baseada na sensibilidade à pressão do tablet — perfeito para este tipo de miniatura.

 

 

Fig. 1: este é o Oil Paint Flat Brush usado para este exercício, com configuração padrão.

 

O que você deve praticar:

 

 

Fig. 2: o tipo de pincelada usada neste primeiro exercício. Pratique fazer os limites de um quadrado e preenchê-lo em preto e branco com pinceladas sobrepostas verticais e horizontais. Tente se manter dentro dos limites que você estabeleceu. Quanto mais praticar, mais fácil isso vai se tornar.

 

 

A miniatura gráfica (fig. 3). Nesta composição, eu tentei dar foco à figura humana usando um recurso chamado “enquadramento”, que consiste em colocar um ou mais objetos dentro de quadros na cena. Essa é uma técnica comum usada em filmes e funciona igualmente bem para imagens estáticas.

 

Os padrões geométricos ajudam a criar ritmo e a concentrar a atenção na figura humana (forma orgânica).

 

Exemplo 2: introduzindo a cor cinza

Se quiser maior profundidade e mais opções para representar luz e volumes, é uma boa ideia introduzir um ou dois tons de cinza à composição. Isso suaviza o contraste entre o preto e branco puro e cria uma área de descanso para os olhos.

 

Para esta composição, vamos usar um pincel chamado “Bit Husky” da categoria de tintas nanquim (atalho “b”), também com as configurações padrões (fig. 4). O objetivo deste exercício é começar a cobrir áreas com tons que não sejam inteiramente uniformes.

 

É bom dar um pouco de movimento às suas pinceladas, pois isso adiciona movimento e interesse visual à composição como um todo.

 

 

O que você deve praticar:

 

 

Desta vez, vamos preencher nossos quadrados com um tom não uniforme, deixando as pinceladas visíveis. Experimente fazer uma versão com traços verticais e outra com traços horizontais. O pincel “Bit Husky” é perfeito para este tipo de exercício. Desta vez, use um cinza de médio a escuro em vez do preto chapado.

 

 

Observe como há uma atmosfera muito mais definida nesta composição (fig. 6) e como o personagem parece mesclar-se bastante ao plano de fundo, criando uma sensação de suspense na cena. Isso tudo se deve à introdução dos cinzas.

 

Ao criar a proximidade entre os tons, podemos introduzir sutilezas na cena. Note ainda as pinceladas no plano de fundo. Mesmo que essa área não seja o foco principal da cena, isso não significa que ela deva ser desinteressante.

 

Exemplo 3: vamos pintar uma cabeça

Poucos exercícios são mais desafiadores que o de pintar uma cabeça. Não só pelas suas formas complexas, mas também porque até quem não entende nada de arte sabe como uma cabeça deve se parecer. Por sorte, o objetivo deste exercício não é pintar um retrato ou uma cabeça realista. Vamos realizar um estudo sobre economia de pinceladas.

 

Vamos tentar dividir as formas da cabeça em formas mais simples, procurando não renderizar detalhes, mas entender qual é o mínimo possível que nos ajuda a entender como a cabeça se parece. Para este exercício, vamos selecionar a categoria Caneta (atalho “p”) e escolher um Marcador (fig. 7). Mas vamos realizar algumas mudanças e personalizá-lo para conseguir resultados melhores.

 

 

Vamos começar com a “Fill-In-Mono Pen”. Dê um clique direito nela, selecione “Duplicar subferramenta” e depois a renomeie (eu renomeei a minha para “Fill-In-Mono Pen Custom”). Clique no ícone de configurações (canto inferior direito) e personalize o Marcador no menu “Ponta do pincel” com as seguintes configurações (fig. 8):

 

 

 

Note que eu fiz alterações em “Dureza”, “Espessura”, “Direção de aplicação” e “Densidade do pincel”. Experimente replicar isso, mas sinta-se livre também para brincar com as configurações e ajustá-las conforme sua preferência.

 

O pincel que eu criei possui um traçado angular e uma leve maciez (devido à redução da “Dureza”), é oval em vez de redondo e não é completamente opaco. Essas configurações vão nos ajudar a criar pinceladas muito mais dinâmicas, que podem ser sobrepostas usando uma técnica chamada de “building up” (sobreposição gradual de camadas).

 

Você pode baixar os pincéis originais usados nesta aula no Clip Studio Assets: https://assets.clip-studio.com/pt-br/detail?id=1751676

 

O que você deve praticar:

 

 

A técnica de sobreposição gradual de camadas consiste em nada mais que sobrepor suas pinceladas de forma aparente a fim de criar tons mais densos. Pratique vários quadrados dessa forma, às vezes tentando preenchê-los com um tom chapado com várias “demãos” de pincel e outras vezes deixando as pinceladas mais perceptíveis.

 

 

Eu começo a pintar uma forma plana para a cabeça. Meu objetivo principal aqui é encontrar uma boa proporção, e o tom escuro me ajuda a discernir e criar as luzes por cima. Em seguida, eu coloco os tons médios da testa e ao redor das órbitas oculares. Eu então estabeleço os tons claros no lado da cabeça e no nariz, definindo a direção da luz (fig. 10).

 

 

Eu continuo a definir mais formas, mas desta vez dentro das áreas sombreadas, usando tons bastante semelhantes para não criar confusão quanto à direção da luz. Observe como podemos ver quase todas as pinceladas e como isso é possível justamente pela economia delas.

 

Qualquer mistura ou suavidade é criada pela proximidade de tons, não pelo meu esfumaçamento ou pelo uso de pincéis suaves. Depois eu adiciono o cabelo e as orelhas, deixando a cabeça quase pronta. Ela já está bastante reconhecível — não como um retrato, mas apenas como uma cabeça. (Fig. 11)

 

 

Seguindo a mesma técnica, eu adiciono o pescoço e a cabeça está concluída (fig. 12). Como mencionei antes, o objetivo aqui não é criar uma cabeça renderizada com perfeição, mas tentar trabalhar com menos pinceladas para representar os planos e formas de uma cabeça.

 

Essa técnica proporciona obras muito lindas e expressivas quando bem empregada, mas exige alguma prática para evitar um resultado final tosco. Pratique essa técnica com diferentes objetos e você logo conseguirá dominá-la!

 

Exemplo 4: Quadro chave em cores

Neste exemplo, vamos usar o mesmo pincel criado no último exercício (consulte as figuras 7 e 8 e suas respectivas explicações) para criar uma ilustração de quadro chave em cores. Desta vez, vamos estabelecer um esquema de cores e definir gradualmente uma composição simples.

 

Todas as pinceladas explicadas acima serão utilizadas. Nós vamos sobrepor as cores e luzes pouco a pouco por cima de uma base neutra e escura que deixaremos estabelecida desde o início.

 

O que você deve praticar:

 

 

Vamos usar um esquema de cores quentes com uma cor fria (azul esverdeado de saturação reduzida) para destaque (fig. 13). Pratique criar pequenos esquemas de cores como esse e use-os como ponto de partida para suas composições.

 

Selecione alguma cor dele com frequência e, é claro, sinta-se livre para introduzir um novo tom de cor aqui e ali — só tome cuidado para não introduzir cores demais e acabar comprometendo o esquema de cores original.

 

 

Esta é a cor de base para nossa cena (fig. 14). Observe o movimento das pinceladas criado pelos movimentos verticais para cima e para baixo. Esta base neutra será ótima para que possamos discernir as cores e luzes por cima dela.

 

 

Eu começo colocando algumas formas geométricas escuras sobre ela para criar o foco da composição no meio (mas não ao centro) da cena (fig. 15). Nesta parte eu uso as mesmas pinceladas para cima e para baixo que usei antes.

 

 

Eu adiciono mais algumas formas no que já visualizo ser uma janela por trás do personagem (fig. 16). Isso ajuda a estabelecer um ritmo para a composição.

 

 

Neste passo eu introduzo a cor de destaque (fig. 17). Isso funciona como um forte ponto focal (ou como suporte ao ponto focal principal), já que é um elemento contrastante. Observe o movimento das pinceladas criando interesse numa área que, de outro modo, não teria graça.

 

 

Eu agoro começo a sobrepor as luzes. Por cima da base escura estabelecida anteriormente, eu pinto o tom mais claro da composição, tomando cuidado para não ocultar as camadas inferiores de tinta (fig. 18). Isso mantém a obra mais interessante e dinâmica.

 

 

Numa nova camada, eu crio o esboço de um personagem, me atentando para o seu posicionamento no quadro (fig. 19). Assim como antes, detalhes não são necessários: a composição e as pinceladas serão os elementos mais importantes.

 

 

Usando a mesma técnica de pincelada, paleta básica e cores circundantes, eu estabeleço as cores para a jaqueta, camiseta, pele e cabelo do personagem (fig. 20). Isso torna o todo muito mais harmonioso e integrado, além de que, geralmente, é muito mais fácil introduzir novos elementos usando as cores circundantes. E isso conclui esta demonstração.

 

As pinceladas podem definir o sucesso da sua imagem, mas, como com qualquer técnica, só podem ser dominadas pela prática. Procure estudar e aplicar as técnicas apresentadas aqui em outros objetos e no seu próprio trabalho criativo.

 

Personalize pincéis, experimente usar texturas e combiná-las com papéis — enfim, aproveite ao máximo os mecanismos de pincéis incríveis do Clip Studio Paint e você verá que o céu é o limite. Obrigado por ler até o fim. Espero que tenha curtido este tutorial tanto quanto eu curti criá-lo!

 

Sobre Ricardo Guimaraes

Ricardo Guimaraes é um artista de desenvolvimento visual e ilustrador de quadro chave freelancer, além de trabalhar como professor na Michigan State University.   Website: https://www.artstation.com/ricguimm

 

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